Por: Raquel Holanda
Ricardo MouraRicardo Moura
Pernambuco é um estado rico em manifestações culturais e populares. No período do Carnaval, o território pernambucano inspira música e ritmos dos mais diversos, do Recife a Petrolina. Além de frevo, maracatu e caboclinho, o forró também tem seu espaço na folia de Momo. Na cidade de Salgueiro, no Sertão, foi criado, há quatro anos, o Bloco dos Sanfoneiros, sob o comando de Pedro Ribeiro Queiroz Filho, de 53 anos.
Nas vésperas do Carnaval, Pedro Filho e os demais integrantes do Bloco dos Sanfoneiros gravaram um CD (checar essa informação), com músicas para acompanhá-los durante o desfile, que acontece toda Segunda-Feira de Carnaval. “Eu faço o CD no estúdio, passo para o carro de som e aí nós começamos a tocar e a seguir com o carro pelas ruas”, conta o sanfoneiro. Ele diz que o bloco recebeu o carinho dos habitantes de Salgueiro e o ritmo já adorado na cidade, o forró, não fica em falta durante o Carnaval.
Músicas de sucesso no forró pé-de-serra, como “A dança da moda”, “Boiadeiro”, “Asa branca” e “O xote das meninas”, ganham arranjos em frevo e levam os foliões salgueirenses pelas ruas a frevar (ou a forrozar), acompanhando o Bloco dos Sanfoneiros.
HOMENAGEM A LUIZ GONZAGA
Em 2012, ano do centenário de Luiz Gonzaga, o bloco não ficou de fora das homenagens ao Rei do Baião. O Bloco dos Sanfoneiros saiu no Carnaval fazendo referência a seu grande mestre. “A gente não fala neste povo nordestino se não tem forró. Então não podemos cantar em forró sem tocar Luiz Gonzaga”, fala o fundador do bloco.
No repertório do Bloco dos Sanfoneiros para o Carnaval, sucessos de Luiz Gonzaga como “Riacho do navio”, “Respeita Januário” e “Asa branca”. Para Pedro Filho, foi uma oportunidade de incentivar o gosto pelo pé-de-serra, mesmo que seja tocando grandes sucessos do forró no ritmo de frevo.
VIDA DE SANFONEIRO
Sanfoneiro é quem gosta do autêntico pé-de-serra. “Porque sanfoneiros eu conheço muito, mas têm aqueles de banda, e sanfoneiro mesmo é aquele que toca o pé-de-serra”, ensina o sanfoneiro Pedro Filho.
“Eu fui inspirado em Luiz Gonzaga, desde criança meu pai tocava sanfona e eu pelejava, mas nunca tinha tido a chance de tocar”. Foi então que Pedro Filho começou a trabalhar e a juntar um dinheirinho, na adolescência. Depois de um tempo, finalmente ele conseguiu comprar sua primeira sanfona. “E tem seis anos que eu já tenho o Grupo Irmão Nordestino, onde eu comecei mesmo a tocar e a fazer minhas apresentações”, enfatiza o sanfoneiro.
Apesar de gostar muito da sanfona, Pedro Filho não conseguiu se dedicar a ela com exclusividade. Já foi pedreiro, vaqueiro e, em São Paulo, chegou a trabalhar em fábricas. Nas horas vagas, sempre estava com o instrumento e bastava aparecer uma brecha que começava a tocar. “Eu sou apaixonado pelo forró pé-de-serra. Onde for possível eu estou tocando e quase sempre chorando, porque certas músicas me deixam sensível”, comenta o sanfoneiro.
Pelo que Pedro Filho falou à nossa equipe, sanfoneiro é isso: um homem com verdadeiro amor ao arrasta-pé genuíno, à sanfona e ao prazer de tocar e levar alegria para as pessoas. “Eu sou agricultor, tenho minha rocinha e trabalho no dia a dia na terra, mas, de noite, estou na sanfona”. Para ele, não tem cansaço físico que o impeça de tocar, chegando a realizar duas apresentações por noite na época de São João. Pedro Filho relembra Dominguinhos e diz: “A vida de sanfoneiro é pesada, mas tenho amor ao que faço”.
Após uma pausa na conversa – ou na prosa, como se diz – os sanfoneiros assumiram seus respectivos postos no palco do bar Sertanejo e o difícil foi tirá-los de lá. Pedro Filho e seus companheiros não davam trégua para a sanfona, a zabumba e o triângulo. E foi com a sanfona nos braços, um sorriso constante e os olhos cheios de lágrimas que nos despedimos de Pedro Filho e de seus amigos sanfoneiros, enquanto tocavam num ensaio improvisado.
HISTÓRIA DO BLOCO
O nosso amigo sanfoneiro conta um pouco da história do seu bloco: “A gente sempre tocou forró pé-de-serra e um amigo, então secretário de Cultura João Bria, foi quem incentivou, dizendo: ‘Seu Pedro, pega a sanfona hoje e toca. Não tem dinheiro, mas se você gostar, pega a sanfona e sai’”. Este foi o início do nascimento do Bloco dos Sanfoneiros de Salgueiro. Em 2009, no seu primeiro Carnaval, a agremiação sertaneja começou tímida, saindo da casa do seu fundador com apenas três integrantes. No andar do corso, foi agregando foliões e curiosos dos demais blocos da cidade, como A Bicharada do Mestre Jaime, Os Insetos, A Tabacaria etc. “Aí gostei da ideia e resolvi continuar a sair no Carnaval com meu Grupo Irmão Nordestino e com o Bloco dos Sanfoneiros”, relata Pedro Filho.
Composto por 15 sanfoneiros, sete trianguistas, sete zabumbeiros e sete pandeiristas, o desfile dos sanfoneiros no Carnaval salgueirense tem largada da sua sede, ao lado do Santuário da cidade, na Segunda-feira de Carnaval, às 14h, com a primeira parada oficial no palco principal da cidade. Depois daí, retorna para a sede, totalizando um percurso de mais de duas horas, quando Salgueiro se enche de frevo tocado com sanfona.
Com apoio do poder público, o bloco foi se estruturando e ganhando corpo. Em 2010, Pedro Filho já organizou uma camisa para os integrantes do bloco, que não deu para quem quis. “Eu tinha feito 50 camisas, mas acabaram num instante”, comentou o sanfoneiro, que no ano seguinte já dobrou o número de camisas para os amantes do forró. No último carnaval, foram confeccionadas 180 camisas em homenagem a Luiz Gonzaga.
“A sede do bloco é lá em casa mesmo, eu recebo os sanfoneiros todos os anos lá com um mungunzá, uma caipirinha e cervejinha para animar e depois saímos no Carnaval”, adianta Pedro Filho sobre os preparativos que acontecem todos os anos, antes da troça dos sanfoneiros sair com seu fole rasgado pelas ruas de Salgueiro.