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quinta-feira, 31 de março de 2016

Na cidade de São Paulo, Brasil, tem cafezal perto da Av. Paulista.

No coração de São Paulo, a menos de dez minutos da Avenida Paulista, existe uma plantação de café. Isso mesmo. A cidade que não pára, capital do Estado e metrópole financeira do País, conhecida por seus arranha-céus e enormes engarrafamentos, também abriga o maior cafezal urbano do Brasil.


São 1.035 pés de café, plantados em uma área de mil metros quadrados do Instituto Biológico, na Vila Mariana, uma das áreas mais nobres do Município. Na verdade, o Instituto nasceu justamente de um problema enfrentado pelos produtores de café.

No início da década de 20, uma praga começou a atingir os cafezais de São Paulo, provocando a destruição dos grãos e a queda na produção nas fazendas paulistas. E em pouco tempo, se alastrou para todo o Estado e o resto do País.

Então, em 1924, foi criada uma comissão para averiguar os estragos causados pela praga e estabelecer normas para o controle. Essa comissão conseguiu bons resultados em seus estudos e deu origem ao Instituto Biológico, fundado em 26 de dezembro de 1927 com uma missão mais ampla: estudar doenças e pragas das lavouras e fazer o controle das sanidades animal e vegetal.

Como não existia um predador natural da broca no Brasil — a praga foi introduzida no país em 1913, por meio de sementes importadas da África e de Java — um estudioso foi ao continente africano, em 1929, para buscar a ‘‘vespinha de Uganda’’.

Os entomólogos do Instituto (estudiosos de insetos) pesquisaram a biologia e o comportamento da vespinha, a fim de reproduzí-la em laboratório, e passaram a elaborar planos seguros para conter a tragédia agrícola.

Desde então, esse processo natural de predação de uma praga, chamado controle biológico, é a especialidade do Instituto. ‘‘Essa foi a primeira idéia de controle biológico no Brasil, criado para combater a praga cafeeira. O pequeno bichinho (a broca) deu origem a esse prédio’’, conta o diretor do Instituto, Antônio Batista Filho.


Plantio

A construção da sede do Instituto Biológico, que durou 17 anos, teve início em 1927. Na época, a área escolhida era pouco valorizada — uma várzea cheia de pássaros, que englobava parte do Parque do Ibirapuera. Esse local hoje é limitado pelas Avenidas Ibirapuera, Brasil e Conselheiro Rodrigues Alves, uma parte nobre de São Paulo, alvo da cobiça imobiliária.

O plantio de café no terreno do Instituto teve início em 1954. Foram plantadas duas mil mudas, que seriam usadas para estudos e pesquisas científicas. Na plantação, eram feitos diagnósticos para controle e monitoramento de pragas.

Ao longo dos anos, a plantação foi diminuindo e, em 1984, foram plantados novos pés de café.

A partir de 2000, o cafezal passou a ter um caráter mais educativo. Recebe visitas de estudantes e de turistas, que aprendem um pouco sobre a história do café, o plantio do grão e o controle das pragas.

Há dois anos, sempre no mês de maio, o Instituto realiza uma cerimônia para simbolizar o início da colheita do café paulista, com o apoio da Câmara Setorial do Café. A idéia, inspirada em cidades francesas que fazem o mesmo ritual com a uva, é criar um evento que marque a abertura da safra anual.

Atualmente, a produção do Instituto é de uma tonelada de grãos por safra. Depois de torrado, moído e embalado, o café em pó (equivalente a 500 kg) é doado ao Fundo Social de Solidariedade do Estado, que distribui para as entidades assistenciais cadastradas.

Personagem: Paulo de Camargo, 69 anos Camargo começou cedo na lida. Aos 12 anos, já ajudava o pai nos serviços rurais em uma fazenda de café de Campinas, sua cidade natal. Aos 19 anos, já dominava a técnica de plantio e colheita do grão e foi trabalhar sozinho em um outro sítio. Ele é o responsável pela plantação do atual cafezal do Instituto. Em 1984, plantou sozinho cerca de 1.800 mudas. ‘‘O café é um cartão de visita do Instituto, precisa estar bem cuidado’’, diz orgulhoso. Ele garante que a terra e o café colhido no coração de São Paulo são de boa qualidade. O agricultor já estava aposentado quando, há quatro anos, à convite do diretor do Institiuto, voltou a cuidar do cafezal. Mas hoje, prestes a completar 70 anos, já pensa novamente em parar de trabalhar. ‘‘Já não tenho mais a mesma saúde de antes. Quando jovem, trabalhei muito tempo com herbicidas, fazendo aplicação direta, sem uso do equipamentos de segurança. E não sabia que estava lidando com veneno. Acho que isso pode ter afetado minha saúde’’.

Estudos O Instituto Biológico é um órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. Os laboratórios do Instituto realizam estudos e pesquisas científicas na área de sanidade animal e vegetal e atuam na solução de problemas sanitários da agropecuária paulista e brasileira. Hoje, o Instituto conta com 130 pesquisadores, 120 funcionários de apoio, 150 estagiários e 40 pós-graduandos do curso de Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio.

Primeiros grãos estão no Museu do Instituto Biológico

Os primeiros grãos de café com broca examinados pela comissão formada para estudar e controlar a praga estão expostos em um tubo, no Museu do Instituto Biológico (Mibio). No local, há ainda o café afetado pela praga, em seus vários estágios — desde o grão verde até o pó, depois de torrado e moído.

No museu, instalado num casarão em estilo neo-colonial da década de 40, é possível aprender, de forma simples e divertida, o modo de fazer ciência. As visitas são monitoradas e contam com atividades educativas e lúdicas.

‘‘Os jogos, kits bio-pedagógicos e dinâmicas em grupo ajudam a estimular a curiosidade de estudantes, além de incentivar vocações científicas’’, diz a assistente técnica de Pesquisa Científica e Tecnologia, na área de Museologia, Silvana D’Agostini.

O Mibio recebe de 100 a 150 visitantes por mês. Grande parte do público é de estudantes da capital.

Uma das principais atrações do museu é o formigueiro artificial, onde é possível ver e ouvir um pouco mais sobre os hábitos desse inseto. ‘‘As crianças adoram, ficam encantadas’’, diz Silvana.

Serviço:
O Museu fica na Rua Amâncio de Carvalho, 546, Vila Mariana, São Paulo. As visitas precisam ser agendadas pelos telefones (11) 5572-9933 e (11) 5087-1703.


fonte: Centro de Memória do Bixiga acervo @edisonmariotti

http://www.biologico.sp.gov.br/noticias.php?id=99
 Tatiana Lopes  http://atribunadigital.globo.com


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