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sexta-feira, 18 de março de 2016

Av Paulista

Assim era a Av Paulista...
Só casas... nenhum prédio... estreita... mudou muito nesses 64 anos...




Próximo à barulhenta e agitada Avenida Paulista, em São Paulo, pode-se encontrar um aconchegante reduto italiano com as tradicionais cantinas por toda parte. Assim é o Bixiga, com “i” mesmo, bairro no distrito da Bela Vista que preserva casarões antigos e a cultura ítalo-brasileira, imortalizada nas músicas do sambista Adoniran Barbosa. 

No coração de São Paulo: Bixiga, com ‘i’






Pé na estrada

Situado no distrito da Bela Vista, na região central da Capital, o TRADICIONAL bairro paulistano preserva boa parte de sua herança ITALIANA, principalmente nos inúmeros restaurantes que honram os mandamentos da BOA MESA

Só um detalhe: há quem diga que o “i” foi adotado para refletir justamente esses doces encantos do lugar e o sotaque presente; outros, porém, falam que a troca do “e” foi para desassociar do sentido pejorativo. Explicando: o nome “bexiga” foi dado ao bairro porque, no início do século 19, houve um surto de varíola na região e a aparência das feridas lembravam um balão, ou bexiga. O bairro foi povoado por imigrantes italianos, a maioria da região da Calábria, atrás de oportunidades de trabalho mais atraentes que as lavouras de café do Interior paulista. Já seus primeiros moradores foram negros, que utilizavam a área como refúgio.
E, mais recentemente, migrantes nordestinos chegaram para compor a população. Passados 136 anos desde a origem do Bixiga, o resultado é uma peculiar mistura na qual sobressaem a religião e a cultura dos colonos italianos, sobretudo pela permanência das tradições gastronômicas e as celebrações anuais, como a Festa da Achiropita—santa italiana que é a padroeira do lugar—e o Bolo do Bixiga, realizado no dia 25 de janeiro, dia do aniversário da cidade. Umdos grandes responsáveis pela preservação da história local é Walter Taverna, fundador da Sociedade de Defes a das Tradições e Progresso da Bela Vista (Sodepro), presidente do Centro de Memórias do Bixiga (CMB) e comerciante. 

Ao longo de seus 81 anos, “seo” Walter lutou para preservar a memória do bairro, tanto que pediu em 1985 o tombamento do local, o que aconteceu em 2002. “Foi uma loucura minha pedir o tombamento, mas eu precisava fazer alguma coisa para que a especulação imobiliária não tomasse conta”, diz. Filho de sicilianos, ele nasceu e cresceu no Bixiga e compartilha a história do local no CMB, onde guarda 30 mil fotos e documentos. “Estou colocando aos poucos da internet para que mais gente possa ver e consultar”, revela. 

O centro não tem horário fixo de funcionamento, mas quem quiser conhecer a entidade só precisa ligar e combinar com “seo” Walter— ou procurá-lo pelas ruas do distrito. Simpático e contador de boas histórias, ele gosta de prosear. Conta que depois de muitas rasteiras na vida, quase nenhum estudo e muito trabalho, conseguiu comprar o primeiro restaurante, Conchetta, nome em homenagem à “maior linguaruda do Bixiga”, conta. Depois vieram o Scapriciatello, o Poderoso Chefão, o Atlanta, mais Conchettas, o São José, o Taverna, o Bixiga Amore Mio...

Nem tudo deu certo, mas hoje ele é proprietário de quatro cantinas. O Conchetta é localizado na Rua Treze de Maio, 560. As mesas e cadeiras do restaurante são cobertas com panos nas cores da bandeira da Itália—verde, vermelho e branco —, e varais com camisetas e bandeiras fazem uma bem-humorada referência ao país. 

O local abre todos os dias e conta sempre com a presença do proprietário, que aos sábados costuma das um “show de panelaço” para os clientes, batendo tampas de panela de modo admirável. “Antigamente, os instrumentos musicais era muito caros na Itália, então as pessoas pegavam o que podiam para fazer barulho, e a panela era uma delas. Acabou virando tradição”, diz garantindo que a atividade ajuda a combater o estresse e as dores musculares, além de dar autoconfiança. Cantinas Poucas quadras acima do Conchetta, fica a Cantina Roperto, fundada em 1942. Passadas de geração em geração desde a chegada da família ao Brasil, o restaurante preserva essa trajetória nas paredes com fotos de família, um documento de viagem e o brasão do “clã”. 

O cardápio tem cerca de 20 tipos de massa a serem combinadas com diferentes molhos, além da famosa perna de cabrito e o filé à parmegiana. Na mesma rua estão a Lazzarela, cujo destaque do menu é a lasanha, e a Villa Tavola que, com 2.000m², ocupa cinco antigos casarões do início do século 20. Paralelamente, na Rua Rui Barbosa, encontram-se a Cantina Gran Roma - Tratoria Belvedere, com várias sugestões de massas, carnes, peixes e frutos do mar, e a C que Sabe...!, que possui decoração típica do Sul da Itália e uma galeria de fotos de artistas que frequentaram a casa. Esses são apenas alguns dos restaurantes, coisa que não falta no Bixiga (veja o quadro ao lado). 

Empório Chama a atenção o número 614 da Rua Treze de Maio: uma pequena portinha, logo numa olhada rápida, revela gostosuras. Trata-se do Empório e Padaria Basilicata, criada em 1914 por Felipe Ponzio, nascido na região da Basilicata, quem trouxe para o Brasil a receita de um pão local. Cem anos se passaram e o estabelecimento mantêm a qualidade dos produtos. E são muitos: azeites, vinhos, sardelas, patês, azeitonas, frios e muitos pães. Fica na altura do número 614 e funciona de segunda a sábado, das 7h às 20h, domingos e feriados, das 7h às 14h. Telefone: (11) 3289-3111.

Ronaldo Roperto e a filha Alessandra na cantina que leva o nome da família: de geração em geração desde 1942

DICA DA REPÓRTER

A Praça Dom Orione abriga o busto do saudoso Adoniran Barbosa. Uma justa homenagem ao sambista que retratou o bairro do Bixiga em seus versos e o sotaque característico do local nas suas interpretações. Filho de imigrantes italianos, Adoniran nasceu em 6 de agosto de 1910, em Valinhos, e viveu boa parte dos seus 72 anos em São Paulo, onde recebeu o título de “pai do samba paulista”. Figura curiosa que frequentemente ia ao Bixiga, ora para cantar, ora para curtir os bares e restaurantes. Além da estátua do compositor, a praça é uma boa dica pela feira de antiguidades que ocorre aos domingos, das 10h às 18h. A feira existe há 30 anos e conta com aproximadamente 200 barracas, onde encontra-se quase tudo.



acervo do Centro de Memória do Bixiga CBM.H.000.716  - fonte: @edisonmarioti 

Campinas SEXTA-FEIRA 9 / 01 / 2015 CORREIO POPULAR

Marita Siqueira DA AGÊNCIA ANHANGUERA
marita.siqueira@rac.com.brfonte: Memórias Paulistanas


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