Geraldo tem o nome ligado à história do Carnaval paulista. Respeitado e querido por todas as escolas, marcou presença na Unidos do Peruche, para quem compôs sambas-enredo, mas é lembrado principalmente por sua ligação com a Vai-Vai. O samba "Vai no Bexiga pra Ver" tornou-se um hino da escola, e "Silêncio no Bexiga" homenageia um célebre diretor de bateria da Vai-Vai, exímio capoeirista das antigas rodas de tiririca e chefe da torcida organizada do Corinthians, o Pato Nágua.
Geraldo Filme, nome artístico de Geraldo Filme de Souza (São Paulo, 1927 — São Paulo, 5 de janeiro de 1995), foi um compositor, cantor e militante negro brasileiro. Também foi conhecido como; "Seu Geraldo", "Geraldão da Barra Funda", "Tio Gê" (apelido dado pelas crianças), "Corvão" e na infância de"Negrinho das Marmitas".
Geraldo Filme era filho de Sebastião, natural de Ouro Preto, e Augusta Geralda, nascida em São João da Boa Vista. Ambos contemporâneos aos últimos anos do sistema escravista. Segundo seu registro oficial, Geraldo Filme nasceu em São João da Boa Vista, no interior paulista, no ano de 1928. Contudo, segundo ele próprio afirmou no programa Ensaio da TV Cultura, ele teria nascido na capital paulista em 1927. São João da Boa Vista , foi o local onde ele foi registrado e batizado, por ser a terra natal de seus pais e familiares de ambos os lados. Na época era bastante comum, pelo menos entre as famílias negras, batizar e registrar os filhos na terra de origem da família como se a criança também fosse nativa daquela terra. Segundo ele a festa de seu batizado durou mais de um dia. O pai tocava violino, mas foi com a avó que conheceu os cantos de escravos que influenciaram sua formação musical.
Sua mãe tinha uma pensão nos Campos Elísios e ficou conhecida como "negra da pensão". Ela fazia marmitas que o menino Geraldo entregava em toda a região, ficando conhecido como "Negrinho da Marmita". Antes de ser dona de pensão, a mãe de Geraldo Filme foi empregada domestica de uma abastada família paulistana. Nessa época ela teve a oportunidade acompanhar essa família em uma viagem a Londres. Depois de observar os movimentos sindicais em Londres ela teve a ideia de fundar o sindicato das empregadas domesticas, classe trabalhista, que em São Paulo era formado praticamente apenas por mulheres negras. Esse sindicato deu origem ao grêmio recreativo que deu origem ao cordão carnavalesco que futuramente iria se transformar na Escola de Samba Paulistano da Glória.
O cantor e compositor Zeca da Casa Verde foi grande amigo de infância de Geraldo Filme. Devido a forte amizade entre suas respectivas mães, Geraldo e Zeca,que tinham a mesma idade, praticamente, foram amigos "de berço" ao ponto de se identificarem como primos. Na Barra Funda, bairro vizinho, o pequeno Geraldo Filme e Zeca, seu primo de consideração, passavam um bom tempo nas rodas de samba e tiririca (capoeira) que os carregadores e engraxates improvisavam, no Largo da Banana. Nessa época o samba, assim como muitas das manifestações culturais da população negra, eram proibidas. De modo que muitas vezes a roda era interrompida com a chegada da policia.
Aos 10 anos, após ouvir o pai dizendo que em São Paulo não se fazia samba de qualidade como no Rio de Janeiro, Geraldo Filme compôs seu primeiro samba "Eu Vou Mostrar" com o intuito de provar ao pai que em São Paulo havia samba de qualidade.
Tanto na infância quanto na vida adulta Geraldo Filme participou da festa de Bom Jesus de Pirapora onde havia grande participação da população negra. Discriminados, durante essa festa os negros ficavam alojados em barracões fora da área urbana. Ali, após a parte religiosa do evento, eles se divertiam com samba de bumbo e outras danças então comuns a população negra do sudeste. Certa vez, quando Geraldo Filme era menino, sua mãe , pagando uma promessa, o havia vestido de anjo. No entanto o organizador da festa o proibiu de andar na procissão com outras crianças vestidas de anjo, por ser negro. Revoltada sua mãe jogou fora as asas e o levou ao barracão onde os negros faziam suas festas, onde não eram discriminados. Essa ocorrência o teria marcado ao ponto de na vida adulta, ter servido de inspiração para o samba "Batuque de Pirapora".
Geraldo Filme foi testemunha participante das antigas manifestações culturais populares de São Paulo, sobretudo das, então reprimidas manifestações culturais da população negra. No programa Ensaio, falando sobre sua juventude ele relatou as rodas de tiriricas, cujos instrumentos improvisados eram as palmas das mãos, as latas de lixos e as caixas de engraxar sapato. Ele relatou os bailes que os negros promoviam nos porões, para driblar as repressões policiais, as Festas de Bom Jesus de Pirapora, os tamborins artesanais (não havia em São Paulo nenhuma loja especializada nesse tipo de instrumento) em formato quadrado cuja armação era de madeira e o coro feito com pele de gato e que era esticado numa fogueira improvisada com papel de jornal. Relatou uma época em que o Carnaval acontecia nas ruas sem intervenção do Estado e era sustentado pelo gosto da própria população que, informalmente, se organizava. Nos bairros, por exemplo, enquanto os negros cuidavam da parte musical os italianos se encarregavam da parte da alimentação.
Geraldo tem o nome ligado à história do Carnaval paulista. Respeitado e querido por todas as escolas, marcou presença na Unidos do Peruche, para quem compôs sambas-enredo, mas é lembrado principalmente por sua ligação com a Vai-Vai. O samba "Vai no Bexiga pra Ver" tornou-se um hino da escola, e "Silêncio no Bexiga" homenageia um célebre diretor de bateria da Vai-Vai, exímio capoeirista das antigas rodas de tiririca e chefe da torcida organizada do Corinthians, o Pato Nágua assassinado, na cidade de Susano, pelo Esquadrão da Morte. Com o samba-enredo “"Solano Trindade, Moleque de Recife" levou a escola ao título de campeã.
Um grande conhecedor da história de São Paulo, Geraldo pesquisou e compôs o samba Tebas que conta a história da origem desse termo que significava "o bom" ou "o melhor" e era muito usado pelos paulistanos no século passado. A origem desse termo se dá devido a um escravo que conseguiu sua carta de alforria por ser um grande conhecedor de alvenaria e hidráulica, sendo o responsável pela construção das torres da Catedral da Sé e da canalização dos esgotos da região central da cidade. Foi dele o primeiro casamento na catedral após a construção das torres. Ele construiu também um chafariz no centro da cidade. Ambas autorias não são lembrados pelas autoridades.
Nos últimos anos de vida trabalhou na organização do Carnaval na cidade de S. Paulo, tornando-se uma referência da cultura negra paulistana. Um aspecto pouco estudado de sua obra é a releitura do samba rural paulista ("Batuque de Pirapora", "Tradições e Festas de Pirapora"), que trazem elementos dos jongos, vissungos e batuques ensinados por sua avó. Deixou poucas gravações, e boa parte de sua obra continua desconhecida. O LP “Geraldo Filme”, gravado em 1980, demorou 23 anos para ser lançado em CD (Eldorado, 2003).
Uma importante gravação de cunho documental e histórico, O Canto dos Escravos, com Clementina de Jesus e Doca da Portela (Eldorado, 1982), também já pode ser encontrada em CD. A gravação do programa Ensaio, realizada em 1982, é outro documento valioso sobre Geraldo Filme (SESC/ TV Cultura).
Suas composições podem ser ouvidas em gravações de Beth Carvalho (Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo), Osvaldinho da Cuíca (História do Samba Paulista), grupo A Barca, entre outros. Existe em vídeo um documentário sobre sua obra, realizado por Carlos Cortez, uma coprodução da TV Cultura, CPC-Umes e Birô da Criação. (Ouvir também o álbum de Plínio Marcos - Nas quebradas do Mundaréu - que mistura a prosa, contada por Plínio, e o samba, cantado por Geraldo Filme)
fonte: Centro de Memória do Bixiga
acervo: @edisonmariotti #edisonmariotti
--in via tradutor google
Geraldo is named after the history of the Paulista Carnival. Respected and loved by all schools, he was present at Unidos do Peruche, for whom he composed sambas-plot, but is remembered mainly for his connection with Vai-Vai. The samba "Vai no Bexiga para Ver" became a school anthem, and "Silêncio no Bexiga" honors a famous drum director of Vai-Vai, a fine capoeirista of the old wheels of tiririca and head of the Corinthians organized crowd. Pato Nágua.
Geraldo Filme, the stage name of Geraldo Filme de Souza (São Paulo, 1927 - São Paulo, January 5, 1995), was a Brazilian composer, singer and black militant. It was also known as; "Seu Geraldo", "Geraldão da Barra Funda", "Tio Gê" (nickname given by the children), "Corvão" and in the childhood of "Negrinho das Marmitas".
Geraldo Filme was the son of Sebastião, born in Ouro Preto, and Augusta Geralda, born in São João da Boa Vista. Both contemporaries to the last years of the slave system. According to his official record, Geraldo Filme was born in São João da Boa Vista, in the interior of São Paulo, in the year 1928. However, according to him he affirmed in the TV Cultura program, he was born in the city of São Paulo in 1927. São João da Boa Vista, was the place where he was registered and baptized, for being the birthplace of his parents and relatives on both sides. At that time it was quite common, at least among black families, to baptize and register the children in the land of the family as if the child were also native to that land. According to him the party of his baptizing lasted more than one day. His father played violin, but it was with his grandmother that he learned the slave quarters that influenced his musical training.
His mother had a boarding house on the Champs Elysées and was known as the "pensioner." She made baby food that Geraldo delivered throughout the region, becoming known as "Negra do Marmita". Before being a pensioner, Geraldo Filme's mother was employed domestically by a wealthy family from São Paulo. At that time she had the opportunity to accompany this family on a trip to London. After observing the trade union movements in London, she had the idea of founding the union of domestic servants, working class, which in São Paulo was practically made up only of black women. This union gave birth to the recreational association that gave birth to the carnival cordon that in the future would become the School of Samba Paulistano da Glória.
The singer and composer Zeca of the Green House was great childhood friend of Geraldo Filme. Due to the strong friendship between their respective mothers, Geraldo and Zeca, who were the same age, practically, were "cradle" friends to the point of identifying themselves as cousins. In Barra Funda, a neighboring neighborhood, little Geraldo Filme and Zeca, his cousin of consideration, spent a good time on the samba and tiririca (capoeira) wheels that the porters and shoemakers improvised in Largo da Banana. At that time samba, as well as many of the cultural manifestations of the black population, were forbidden. So often the wheel was interrupted with the arrival of the police.
At the age of 10, after hearing his father say that in São Paulo there was no quality samba like in Rio de Janeiro, Geraldo Filme composed his first samba "I Will Show" with the intention of proving to his father that in São Paulo there was a samba of quality.
Both in childhood and in adult life Geraldo Filme participated in the Bom Jesus de Pirapora party where there was great participation of the black population. Discriminated, during this party the blacks were housed in barracks outside the urban area. There, after the religious part of the event, they had fun with kick drum samba and other dances then common to the black population of the southeast. Once, when Geraldo Filme was a boy, his mother, paying a promise, had dressed him as an angel. However the party organizer forbade him from walking in the procession with other children dressed as an angel, for being black. Revolting, her mother threw off her wings and led him to the shed where the negroes held their parties, where they were not discriminated against. This occurrence would have marked him to the point of adulthood, to have served as inspiration for the samba "Batuque de Pirapora".
Geraldo Filme was a participant witness of the old popular cultural manifestations of São Paulo, mainly of the then repressed cultural manifestations of the black population. In the program Ensaio, talking about his youth he related the tiriricas wheels, whose improvised instruments were the palms of the hands, the cans of rubbish and the boxes of shoe shine. He reported on the dances promoted by the negroes in the basements, in order to avoid police repression, the Festivities of Bom Jesus de Pirapora, the artesian tambourines (there was no specialized store in São Paulo), in a square format whose frame was made of wood and the cat-clad choir stretched out on a makeshift campfire with newsprint. It related a time when Carnival took place on the streets without state intervention and was sustained by the taste of the population itself, which informally organized itself. In the neighborhoods, for example, while the blacks took care of the musical part, the Italians were in charge of the food.
Geraldo is named after the history of the Paulista Carnival. Respected and loved by all schools, he was present at Unidos do Peruche, for whom he composed sambas-plot, but is remembered mainly for his connection with Vai-Vai. The samba "Vai no Bexiga para Ver" became a school anthem, and "Silêncio no Bexiga" honors a famous drum director of Vai-Vai, a fine capoeirista of the old wheels of tiririca and head of the Corinthians organized crowd. Duck Nágua murdered, in the city of Susano, by the Squadron of the Death. With the samba-enredo "" Solano Trindade, Moleque de Recife "took the school to the title of champion.
A great connoisseur of the history of São Paulo, Geraldo researched and composed the samba Thebes, which tells the story of the origin of this term that meant "the good" or "the best" and was widely used by Paulistas in the last century. The origin of this term is due to a slave who obtained his letter of release for being a great connoisseur of masonry and hydraulics, being responsible for the construction of the towers of the Cathedral of the Cathedral and the sewerage of the central region of the city. It was his first marriage to the cathedral after the construction of the towers. He also built a fountain in the center of the city. Both authors are not remembered by the authorities.
In the last years of life he worked in the organization of the Carnival in the city of S. Paulo, becoming a reference of the black culture of São Paulo. A little studied aspect of his work is the re-reading of the samba rural of São Paulo ("Batuque de Pirapora", "Traditions and Festivities of Pirapora"), which bring elements of the jongos, vissungos and batuques taught by his grandmother. He left few recordings, and much of his work remains unknown. The LP "Geraldo Filme", recorded in 1980, took 23 years to be released on CD (Eldorado, 2003).
An important documentary and historical recording, The Song of the Slaves, with Clementina de Jesus and Doca da Portela (Eldorado, 1982), can also be found on CD. The recording of the Essay program, held in 1982, is another valuable document about Geraldo Filme (SESC / TV Cultura).
His compositions can be heard in recordings of Beth Carvalho (Beth Carvalho Canta Samba of São Paulo), Osvaldinho da Cuíca (History of Samba Paulista), group A Barca, among others. There is a video documentary about his work by Carlos Cortez, a co-production of TV Cultura, CPC-Umes and Birô da Criação. (Also listen to Plinio Marcos' album - In the Broken of the Mundaréu - that mixes the prose, counted by Plínio, and the samba, sung by Geraldo Filme)
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