A festa de Nossa Senhora da Achiropita é a mais tradicional do bairro, sem dúvida.(...)
No início, era uma capela, não era reconhecida pelo clero, não tinha padre e todo casamento ou batizado tinha que ser feito na Igreja do Divino Espírito Santo, na rua Frei Caneca(...).
No dia 19 de março de 1926, o clero reconheceu aqui como Igreja graças ao esforço do coronel Nicolau dos Santos. Desde 1906 já existia a festa. Vinham até bandas da Itália tocar.
A Igreja de N.Sa. da Achiropita,
na Rua Treze de maio, em foto dos anos 70 .
O primeiro padre que veio para ser pároco foi o Padre Carlos Alferano. Ele ficou famoso. Era muito trabalhador porque naquele tempo padre só usavam batina) preta, grande, e andavam com o bolso cheio de santinhos pequenos. As pessoas eram, obrigados a beijar a mão dele quando estava rua. Ele então enfiava a mão no bolso e dava um santinho. Naquele tempo também era raridade ver padre na rua, a não ser na época de benzer as casas, uma vez por ano. Fora isso, eles ficava na igreja.
Esse padre, muito vivo, quando chegou aqui falou que desejava colocar o nome da igreja de Nossa Senhora Achiropita e ele perdia o apoio dos cirigliolianos, que eram devotos da Nossa Senhora da Ripalta; e se ele trocasse o nome Nossa Senhora da Ripalta, os calabreses não aprovariam.
Então ele, batizou a igreja com o nome de Paróquia São José do Bixiga, que foi feita no dia 19 de março. Mas sempre no altar principal ficava Nossa Senhora da Achiropita.
Andor de N.Sa. da Achiropita, a preferida dos calabreses,
hoje padroeira do bairro em procissão em sua homenagem.
Década de 60.
Os italianos lutaram e em 1940 eles conseguiram transformar o nome da igreja para Nossa Senhora Achiropita. (...)
A festa da Achiropita não interrompeu, durante a guerra, porque na época, não vendia comida. Era só barraca de prendas, jogos e a procissão.
O que faz hoje a festa italiana são as comidas. Naquele tempo não vendia comida. Iluminação, música, os dançarinos da Itália, os Bersaglieri... Mas não tinha nada com o italiano. Era a festa da igreja do Bixiga.
A procissão todo dia 15.
Tinham os anjos, tinham os meninos vestidos com aquelas boina caída e com lençol. E eles pediam para todo mundo participar.
Quando a procissão andava, a primeira coisa que a gente fazia era comprar uma vela com um quadrado de papel, que não deixava apagar. Todo mundo ia com essa vela na mão.
Em foto para a posteridade, os "anjinhos" da procissão de
N.Sa. da Achiropita, por volta dos anos 50
Em 1982 tinha morrido essa tradição.
Então, a comissão da União do Bixiga ( Walter Taverna e Nelson Abreu Pinto ), antes da procissão, fizeram cartazes e entregaram de casa em casa, de prédio em prédio onde a procissão ia passar e pedindo para todos a colocarem a colcha na janela.
Foi a coisa mais bonita que já se viu!
"Nos cortiços, nas janelas dos prédios, todos tinham toalha. Outros jogavam papel picado, tinha até toalha de rosto. Também a colcha e o altar da família Scarlatto na janela."
A outra santa do bairro, N.Sa. da Ripalta,
a eleita dos cirigliolianos, em procissão da década de 50
(Trecho do livro "Memórias de Armandinho do Bixiga " depoimento a Júlio Moreno, Editora SENAC São Paulo, 1996)
fonte: Centro de Memória do Bixiga acervo @edisonmariotti
registro: CMB.B000.097
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