Nascido e criado no Bixiga, filho de italianos calabreses, Otávio Pugliesi com mais de 25 anos dedicados a uma participação ativa na comunidade Achiropita e na Festa de agosto. Sua história com a paróquia começou quando era garoto e lá fez sua primeira comunhão. Hoje, coordena a Equipe de Manutenção do Patrimônio da igreja, além de ser responsável pela oração diária do terço, durante a semana, antes da missa.
Otávio Pugliesi
Tanto ele como sua esposa, Ida, mantêm uma forte ligação com a história da quermesse, principalmente, quando esta voltou à rua — em fins da década de 70 — e começou a tornar-se a grande festa que é hoje.
Tanto ele como sua esposa, Ida, mantêm uma forte ligação com a história da quermesse, principalmente, quando esta voltou à rua — em fins da década de 70 — e começou a tornar-se a grande festa que é hoje.
E pode-se dizer que são os principais responsáveis pela "coqueluche" da Festa de N. Sra. Achiropita, como Otávio mesmo define: a fogazza.
A quermesse do Bixiga estava crescendo, aumentando o número de barracas e de comidas típicas servidas. Ao visitar uma outra festa popular italiana de São Paulo, Otávio percebeu que a fogazza tinha boa aceitação por parte do público.
E logo teve a ideia de vendê-la na Festa d'Achiropita. Sua esposa, também filha de italianos, havia aprendido a receita com sua mãe e sabia fazer muito bem esse tipo de pastelão italiano. Poderia ficar responsável pela feitura da massa. Otávio, então, apresentou a sugestão ao coordenador da quermesse, que aceitou-a prontamente.
Logo no primeiro sábado da Festa — Otávio lembra bem —, Ida amassou em casa seis quilos de farinha e levou as fogazzas prontinhas para serem fritas na hora. Foi um sucesso, logo acabou. No dia seguinte, Ida preparou uma quantidade maior e novamente vendeu tudo. E desta maneira foi progredindo, até chegar a um ponto em que não era mais possível fazer a massa em casa e foi preciso arrumar um espaço na igreja. Mas, mesmo assim, Ida e sua amiga italiana, dona Carmem, continuaram a preparar as fogazzas sozinhas, na mão.
As filas iam crescendo, o sucesso era cada vez maior. Otávio conta que as duas chegaram a amassar um recorde de 140 quilos nas mãos, para atingir o ponto perfeito da massa.
A fogazza sempre saiu muito bem, e sua produção passou a exigir um número maior de pessoas envolvidas. Hoje, continua sendo feita artesanalmente com a participação de cerca de cem equipistas. É um dos principais atrativos da Festa. Ida continua a trabalhar na quermesse, na cozinha. De terça-feira a domingo, à noite, durante o mês de agosto, ela e outras tantas senhoras preparam os temperos e recheios que serão usados nos pimentões, berinjelas e antepastos servidos na cantina.
No decorrer da Festa, Ida também fica à disposição para ajudar a dar o ponto na massa da fogazza, cuja receita é mantida em segredo. Otávio conta que a esposa já recebeu propostas de preparar o pastelão em outros eventos e festas mas nunca aceitou, pois, como ela mesma disse: "Só ofereço para Nossa Senhora."
Para Otávio, o que explica tamanha dedicação dele e da esposa nas atividades não só da Festa, mas da comunidade Achiropita como um todo é a fé. Segundo ele, ambos recebem tantas graças de Deus que a forma de contribuir é esta: dando continuidade a um trabalho iniciado pelos primeiros imigrantes italianos.
Otávio acredita muito na juventude e fica contente ao ver o empenho dos netos, que também trabalham na Festa. A paróquia é sua casa: recorda-se com carinho da época da catequese e dos jogos de bola com os garotos do bairro. Ah, tempo bom...
O Bixiga mudou muito, ele diz. Obviamente não é mais o bairro que seu pai encontrou quando chegou a São Paulo, em 1910. Contudo, continua sendo um lugar querido. Otávio nunca quis mudar do Bixiga; aqui fez grandes amigos, jogou muito futebol e, principalmente, colaborou para que a comunidade Achiropita crescesse bastante em solidariedade e companheirismo. "Gostaria que todo mundo tivesse uma comunidade como a N. Sra. Achiropita, que trabalha com amor."
Maria Fernanda Vomero. jornalista, moradora do Bixiga e participante da Paróquia Nossa Senhora Achiropita.
fonte: Centro de Memória do Bixiga - acervo @edisonmariotti
registro: CMB.B.000.097