Na festa do Bixiga, samba e um bolo devorado.
"As festas do nosso bairro são assim e fazem sucesso pela descontração". Armandinho, organizador da comemoração.
Está certo. O bolo do Bixiga não conseguiu ser o maior do mundo. Mas de uma coisa tenho certeza. Jamais, em país algum, um bolo de 280 metros foi consumido tão depressa. Ele sumiu. Desapareceu da mesa em menos de cinco minutos.
Espantado durante o final da festa que organizou no sábado, para comemorar os 432 anos de São Armando Puglisi tentou se desculpar pela irreverência dos convidados. Com aquele jeitão próprio dos italianos do Bixiga, justificou:
É amici, o povo aqui é gente simples. Meteu a mão mesmo. Comeu bolo até pelo nariz. Mas as festas do nosso bairro são assim e fazem sucesso pela descontração, pela irreverência. Se tudo isso tivesse acontecido em outro lugar, pode até ser que o governador pudesse reparar. Mas o Montoro e dona Lucy conhecem bem o povo e saíram daqui contentes.
Armandinho, considerado paulistano fiel, presidente do Museu do Bixiga e fundador do Bloco dos Esfarrapados, teve uma "grande idéia" para comemorar o aniversário da cidade: fazer um bolo giganta que batesse o registrado no livro dos recordes que é de 300 metros.
Para isso, convidou, através de jornais, rádio e televisão, moradores de todos os bairros para participar. Pediu que cada um levasse um bolo pronto de casa, tipo "pão-de-ló" simples.
"É. Se todos que vieram para a festa tivessem trazido um bolo, tenho certeza de que ele iria ter quase um quilômetro de comprimento. Mas sabe como é. Muitos não podem. Outros vêm ´na cola´. Enfim, festa é assim mesmo... O importante é que o povo comeu, bebeu, cantou e sambou. E tudo isso aconteceu sem bagunça, sem confusão."
Milhares de pessoas
Ele não nega uma certa frustração pelos 20 metros que faltaram para alcançar o recorde americano. Mas se conformou, lembrando que quebrou o brasileiro: "O maior bolo feito no Brasil foi registrado em Minas Gerais, com 117 metros de comprimento. Com 280 metros, o nosso ganhou longe".
Os próprios moradores contaram como foi a festa. No sábado, o Bexiga amanheceu em clima de alegria. Quando o pessoal ia buscar o pão e o leite nas padarias, paravam para avisar: "Ei belo. Hoje é o dia do bolo do Armandinho".
Enquanto isso na Rua Rui Barbosa estava sendo enfileiradas as mesas, onde seria montado o bolo gigante.
Oito horas. “Muitos começaram a trazer os pães-de-ló que eram cuidadosamente grudados com o glacê mármore”, preparado pela confeiteira Odarli Rubinato. Ela explicou: "Esta receita protege o doce contra as chuvas e o calor. “Foi feita com 1.400 quilos de glaçúcar, 4.500 ovos e 1.200 limões”.
Pessoas de diversos bairros (Vila Mariana, Ipiranga, Jabaquara, Mooca, Casa Verde e até Pirituba) vieram carregando os pães-de-ló cuidadosamente nos ônibus. Por volta do meio-dia, o bolo gigante estava pronto.
Mais de três mil pessoas concentravam-se na Rua Rui Barbosa. Apesar do calor, ninguém queria ir embora sem antes experimentar uma boa fatia de pão-de-ló.
A banda da Secretaria da Cultura, no meio da rua tocava marchas pelo aniversário da cidade. Mas o pessoal acostumado com a bateria cadente do "Vai-Vai", queria mesmo era um bom samba. Por isto, a maioria foi para o início do quarteirão onde estava a Banda da Conchetta, conjunto tradicional do bairro, que toca os sambas-enredos daquela escola. Foi um bom carnaval, inclusive com a presença do rei Momo de 1985, Emil Grigoletto.
Às 13h20, chegaram, Franco Montoro, dona Lucy e o ex-presidente da extinta Paulistur, João Dória Júnior. Entre aplausos, o governador fez um breve discurso. E ele disse: ´São Paulo é feito do suor, do sangue dos brasileiros. Este bolo é um exemplo da integração, da solidariedade da comunidade de diversos bairros. O Bixiga dos teatros, das cantinas, do palhaço Piolin, de Adoniran Barbosa, dei Armandinho e de tantos paulistanos ilustres, está de parabéns".
Montoro mal terminou o discurso, e a população avançou sobre o bolo. E o pão-de-ló, que deveria ser servido em guardanapos, desapareceu em poucos minutos. Não deu tempo de acender as velas e muito menos, de cantar "Parabéns a Você".
O público cortou o bolo com as mãos, em pedaços enormes. Muitos encheram bolsas e sacolas e grande parte não apreciou seu sabor.
Mesmo assim, houve refrigerantes à vontade. “A Skol serviu de graça ‘ cerca de mil dúzias”. Teve ainda um desfile de charretes vindas da Vila Cachoeirinha. A festa terminou com a banda da Conchetta indo embora e o povo sambando e cantando atrás.
Armando Puglisi, faz pela 2ª vez o bolo do Bexiga. Sua proposta é que cada convidado trouxesse um bolo de pão-de-ló afim que todos juntos formasse um único grande bolo coberto por "glacê mármore". O bolo teve 280 metros, não alcançou o maior do mundo que seria 300 metros. Lucy, Franco Montoro João Dória Junior estiveram no evento.
fonte: Centro de memória do Bixiga - acervo @edisonmariotti
Na festa do Bixiga,samba e um bolo devorado
Registro:CMB.H.000.073
Hemeroteca
Coleção:Eventos do Bexiga
Sub coleção:Bolo do Bexiga
Localização:RT-Pasta Bolo 2
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