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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Water Taverna convida para a tradicional Festa de N. Sra. Achiropita. Em 1996...um sentimento bastante presente no dia-a-dia da comunidade: A UNIÃO

Você acaba de chegar, ao Bixiga, famoso bairro da região central de São Paulo, em um dos finais de semana do mês de agosto.


Mesmo antes de atravessar o portal da rua Treze de Maio com a Conselheiro Carrão e percorrer a Festa de Nossa Senhora Achiropita, é possível perceber a grande movimentação de pessoas, que se aglomeram nas filas das barracas e na porta da igreja.


A alegria e o apetite despertado pelo cheiro gostoso de calabresa e polenta misturam-se à música Champagne e conferem ao ambiente um ar de típica colônia italiana, com muita comida e animação.

Como os italianos das primeiras festas em louvor à Madonna Achiropita, que tinham como objetivo arrecadar fundos para a construção da igreja (que era, nos idos de 1918, apenas uma capelinha), Hoje, os recursos obtidos com a vendas, principalmente, com a realização da Festa são destinados às Obras Sociais mantidas pela paróquia.

Logo no início do passeio pelas catorze barracas, na rua lotada de gente, você pode encontrar, apurando o molho, churrasco, polenta, macarrão... 

Conversando com um "equipista" (é assim que são chamados os mais de 600 voluntários que trabalham na Festa), confirma-se que a religiosidade e a animação sempre foram características marcantes do Bixiga e, principalmente, da comunidade Achiropita. 


Os festejos em louvor à padroeira datam da década de dez: no princípio, o dinheiro arrecadado era revertido para o erguimento da igreja. A Festa — hoje tão portentosa — começou como uma pequena quermesse, com barracas de prendas organizadas pelos movimentos existentes na comunidade: Congregados Marianos, Vicentinos, Filhas de Maria, entre outros. E era a gente pobre do bairro que frequentava a quermesse e colaborava para o crescimento da paróquia.

Nas filas — entre um delicioso macarrão à moda Achiropita e um prato de antepasto, um bate-papo aqui, uma troca de idéias ali - é possível descobrir que em 1930, atendendo a um decreto de Getúlio Vargas, foram proibidas quaisquer manifestações culturais de povos imigrantes. Nesse período ditatorial, durante alguns anos, não houve quermesse, só festa religiosa.


Porém, a comunidade não se abateu: anos depois, a quermesse retornou, mantendo as características originais. Para comemorar a vitória da solidariedade e da alegria — legado fundamental da colônia italiana — sobre o arbítrio, que tal uma comemoração: vinho ou chope, o que combina com fricazza? Dúvida cruel. 

Não se desespere: coordenadores da barraca da fricazza, sugerem vinho e, de sobremesa, um sfogliatelli. Você, com água na boca, aceita a sugestão, e o passeio continua.

Antes de entrar na igreja, fique um tempo a observar a barraca da fogazza, ainda com vontade de comer mais umas duas ou três. 

Cerca de cem pessoas botando a mão na massa — que beleza! Trabalho conjunto e dedicado: um dos principais ingredientes na opinião de Daisy Brunoro. na barraca desde sua criação. 

O carinho dos equipistas refletindo-se no reconhecimento do público: uma fila imensa, pacientemente organizada por Luiz Fernando Cruz, equipista também. A fogazza — um tipo de pastelão italiano — tornou-se um dos símbolos da Festa: marcou a volta da quermesse para a rua, após vários anos acontecendo no pátio da igreja. 

Foi quando a Festa d'Achiropita firmou-se como um típico festejo italiano. A fogazza começou a ser feita em casa e era frita na barraca, primeiramente de seis a dez quilos de farinha, apenas umas poucas pessoas envolvidas na produção. 

 O sucesso foi tão grande que foi preciso cada vez mais gente e mais espaço para a feitura do pastelão.A "linha de produção" da fogazza demonstra um sentimento bastante presente no dia-a-dia da comunidade: a união.


fonte: Centro de Memória do Bixiga - acervo @edisonmariotti

registro: CMB.B.000.097

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