“Estou com a idéia de fazer um bolo...”
O bolo mais famoso de São Paulo, que já rendeu reportagens até em jornais e televisões da Europa, foi idealizado em 1985 por Armando Puglisi, mais conhecido como Armandinho do Bixiga. Com a idéia em prática, em sua primeira edição o bolo atingiu 1800 metros. Desde então, vem sendo realizado todo ano e já entrou para o Guiness Book como maior bolo de aniversário do mundo.
Mas de onde surgiu essa idéia tão diferente? Armandinho explicou, em seu livro de memórias: " É uma vergonha São Paulo, a quarta maior cidade do mundo, cidade que tanta gente diz que ama, fazer aniversário e só ter aquela festa de abaixa bandeira, sobe bandeira no Pátio do Colégio. Foi por isso que achei que devia fazer o bolo ". Hoje, Armandinho já não está mais conosco, mas a tradição iniciada ganhou tanta força que, se antes o bolo era montado apenas pela comunidade, hoje já conta até com um centro tecnológico especializado no setor alimentício para a confecção do bolo.
Um pouco mais sobre o Armandinho
Armandinho do Bixiga criou também o Museu Memória do Bixiga, que reúne a história do bairro. Foi ainda presidente da escola de samba Vai-Vai, um dos fundadores do também tradicional bloco carnavalesco Esfarrapado, ajudou a dar nova dinâmica à festa de N.S. Achiropita e – ufa! – conduziu inúmeras outras iniciativas comunitárias que promoveram o bairro do Bixiga inclusive no Exterior.
E o bolo não pára de crescer
O bolo tomou forma e vem sendo realizado todo ano, no dia 25 de janeiro (aniversário da cidade), com uma única interrupção, em 1997, quando por dificuldades financeiras o bairro não pôde realizar o gostoso parabéns. Mas graças à iniciativa de outro importante amigo do bairro, o querido Walter Taverna, a festa foi retomada e a tradição, hoje, recebe apoio de grandes patrocinadores.
A idéia de Armandinho era a de fazer o bolo com 1 metro para cada ano de idade de São Paulo. Neste ano, por exemplo, a comemoração dos 450 anos da cidade proporcionará a confecção de 450 metros de bolo, com três novos sabores e um novo recorde mundial de presente.
A montagem do bolo começa sempre por volta das 5 horas da manhã, terminando em torno das 11 horas, instantes antes do canto do “Parabéns a você”. Após a celebração, o bolo é cortado e distribuído à população. Um processo que tradicionalmente não leva mais do que 20 segundos.
Os 450 anos de São Paulo
Um ano redondo como este merecia um preparo especial. Para comemorar os 450 anos de São Paulo, a Dona Benta Alimentos, em parceria com o Senai-SP, a Garoto e a Dreamaker Branding&Design, está realizando mais um bolo recheado de novidades.
A primeira delas está nos sabores: a tradicional essência de baunilha dará lugar às versões coco, fubá e ao sofisticado chocolate com pimenta. Três sabores intercalados, produzidos com ingredientes selecionados pela Dona Benta e Chocolates Garoto. Ainda, a empresa RioGrandense proverá um suporte diferenciado para os 450 metros do bolo que, este ano, entrou para o calendário oficial de comemorações do aniversário da cidade, merecendo este cuidado extra. Por fim, todo o megaprocesso de preparo está nas habilidosas mãos da Dona Benta, que botou a mão na massa - literalmente - utilizando toda a infra-estrutura do Senai-SP para a confecção desta grande delícia.".
Cronologia do bolo
1980 – Armando Puglisi, o Armandinho do Bixiga, destacado líder comunitário do bairro paulistano da Bela Vista, cria em sua própria casa o Museu Memória do Bixiga. O acervo começa com a coleção de objetos recolhidos pelo próprio Armandinho: fotografia de moradores, tijolos e talhas de casas antigas e demolidas, talheres, móveis e utensílios variados. O Museu torna-se referência das ações sociais desenvolvidas no bairro.
1985 – em 25 de janeiro, a liderança comunitária do bairro, capitaneada por Armandinho do Bixiga, homenageia o aniversário de São Paulo com um bolo de 200 metros, montado na Rua Rui Barbosa, no trecho entre a Rua Conselheiro Carrão e a Praça Dom Orione. “No forno da cantina que tínhamos na Rua dos Ingleses, foram feitos os primeiros bolos, com auxílio de uma cunhada minha, a Arlete, da Pina (Giuseppina Proceli Charanque), da Terezinha já falecida, da Mafalda... Elas vieram, cada uma trouxe a batedeira de casa, aí começou o bolo do Bixiga. O Armandinho pediu na rádio para quem tivesse vontade de participar, trazer um bolo. Veio muita gente. As primeiras mesas foram fornecidas pela Skol, depois pela Antárctica. O Orlandinho Laurenti da Padaria Basilicata fornecia o papel para forrar a mesa, o bolo era feito na cantina e na doceria Dória, que também fornecia a maior parte do glacê. Estavam junto o Walter Taverna, Ângelo Pelegrino (o Argeu), Nelson Gomes (o China) e mais uns dois ou três aqui do bairro. A mãe da Mafalda, a Bisa (Maria Thereza Goulart Franciscato), a mais velha pessoa do bairro, não pode mais ajudar mas hoje fica no palanque lá na frente e não deixa de prestigiar o bolo.” [Maria Thomazia Rodrigues Puglisi, depoimento ao Projeto Memória SENAI-SP, 24/11/2003]
1990 - “Nos primeiros anos, o bolo era feito artesanalmente nas docerias do bairro, mas isso trazia muitos inconvenientes como problemas de transporte, local de armazenamento e conservação do bolo e, logicamente, os custos de tudo. (...) essas questões foram superadas com a ajuda de um hipermercado do bairro, que se encarregava sozinho da confecção do bolo, sem nenhum custo para os organizadores do evento, que se responsabilizavam então pela logística de transporte, montagem das mesas e do palanque, fechamento da Rua Rui Barbosa, policiamento etc.“ [Maria Paula Puglisi, O Estado de São Paulo, 18/01/1997, “Cancelado o bolo do aniversário de São Paulo”, no site www.bixiga.com.br/telas/cancel/.htm, consultado em 10/11/2003]
1995 – “Meu pai morreu em dezembro de 94, em janeiro disse: “Não vou fazer o bolo”. Daí falaram: “Não, você tem que fazer porque vai quebrar a tradição”. Com medo de fazer sem meu pai, fui no 11º Batalhão da Polícia Militar e conversei com o comandante: “Paula, não se preocupe, vou mandar o Batalhão inteiro”. Respondi: “Não pode perder essa cara de comunitário, quero só que resguardem de uma baderna, se virar...”
“Foi engraçado, a população começou a empurrar os guardas que abriram os braços e foram para cima do bolo também.” [Maria Paula Puglisi Yoshihara, em depoimento ao Projeto Memória SENAI-SP, 24/11/2003]
1996 – Dez pessoas trabalharam uma semana inteira, todos os dias das 8 às 22 horas, para preparar 450 formas que, juntas, formaram o bolo, consumido por cerca de 8 mil pessoas em menos de 20 segundos. A batedeira industrial do hipermercado foi ligada e desligada umas 3 mil vezes só para o bolo. Para se manterem conservados, os tabletes exigiram câmara frigorífica apropriada.
A montagem começou por volta das 5 horas da madrugada e só terminou por volta do meio-dia, pouco antes do “Parabéns à você”, seguido do corte e distribuição para a população. Nesse ano, o evento teve o apoio de 150 homens do 11º Batalhão da Polícia Militar, mais integrantes da Administração Regional da Sé, da CET, além do pessoal da Escola de Samba Vai-Vai, amigos e diretores do Museu Memória do Bixiga.
1997 – único ano em que o bolo não foi feito. O Hipermercado Extra que apoiava a iniciativa, desistiu na última hora e nada pôde ser feito.
“Este ano, contudo, o hipermercado não pode colaborar conosco devido a problemas de última hora com seu forno, que não daria conta de fazer um bolo com a exata metragem do número de anos da cidade, como é tradicional. Até quinta-feira passada, eles tentaram outras alternativas, mas elas se mostraram inviáveis. Diante disso, e como o tempo já era escasso inclusive para as demais providências, julgamos melhor cancelar o evento deste ano, com a esperança de que em 1998 ele possa ser retomado com o mesmo impacto que sempre causou.” [Maria Paula Puglisi, O Estado de São Paulo, 18/01/1997, “Cancelado o bolo do aniversário de São Paulo”, no site www.bixiga.com.br/telas/cancel.htm , consultado em 10/11/2003]
1998 – Bolo com 444 metros, metragem igual ao número de anos da cidade. Iniciativa do Museu Memória do Bixiga, com patrocínio da SODEPRO – Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista —, e comerciantes da região (escola CNA, padarias Basilicata e A Italianinha, casa de espetáculos Studium).
1999 – A festa é iniciativa do Museu Memória do Bixiga, com patrocínio do Jornal da Tarde e das Faculdades Integradas Cantareira. A Doceria Maggiore fez o bolo. Lela Puglisi (presidente do Museu e viúva de Armandinho), junto com sua filha, Maria Paula, lideram os voluntários do bairro que ajudam a montar o bolo, em um processo de cerca de 4 horas. O primeiro corte foi feito por Dona Maria Thereza Goulart Franciscato, a Bisa, que completa 90 anos dois dias depois.
2001 – Walter Taverna, presidente da SODEPRO, assume a liderança da festa.
2002 – O Grupo J. Macêdo Alimentos, fabricante da Farinha de Trigo Dona Benta, e a Chocolates Garoto começam a patrocinar o bolo.
2003 – O bolo começa a ser elaborado no SENAI da Barra Funda por confeiteiros e técnicos em alimentos da Escola SENAI “Horácio Augusto da Silveira”, além daqueles da Chocolate Garoto e da Farinha Dona Benta.
Fonte: Memórias do Bolo do Bixiga SP, SENAI-SP 2003
Autor: Alceu Luiz Pazzinato
"Seu" Walter Taverna (2015 )
Comemora 30 anos fazendo o BOLO
DE ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO - PARABÉNS
DE ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO - PARABÉNS
Comerciante do ramo alimentício, nascido em 29 de novembro de 1933, na Rua 13 de Maio, 703, na casa de cômodos onde moravam seus avós, tios e pais, Walter Taverna desde cedo aprendeu que o trabalho era a melhor forma de superar a infância difícil e os percalços da existência.
Herdou do pai, cozinheiro da pioneira cantina de Francisco Capuano, o encanto pela comida italiana e o homenageou quando inaugurou seu primeiro estabelecimento, a cantina Dom Carmelo, em 1975.
Amigo de infância de Armandinho, juntou-se a ele para defender a tradição e o patrimônio histórico do próprio bairro, ações consolidades por meio da SODEPRO (Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista), da qual é presidente.
Em depoimento ao Projeto Memória SENAI-SP, ele conta: “A idéia da SODEPRO é de um grupo de pessoas que queriam fazer uma sociedade para defender o bairro. Isso foi em 1977 para 1978, quando assumi a presidência. Então, fiz um projeto social para poder defender algumas pessoas da própria comunidade e a história do bairro. Quando o Armandinho morreu, fiz um juramento que o bolo ia ser feito de todas as formas, nem que eu tivesse que vender a minha casa, ou pedir dinheiro emprestado.”
Herdou do pai, cozinheiro da pioneira cantina de Francisco Capuano, o encanto pela comida italiana e o homenageou quando inaugurou seu primeiro estabelecimento, a cantina Dom Carmelo, em 1975.
Amigo de infância de Armandinho, juntou-se a ele para defender a tradição e o patrimônio histórico do próprio bairro, ações consolidades por meio da SODEPRO (Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista), da qual é presidente.
Em depoimento ao Projeto Memória SENAI-SP, ele conta: “A idéia da SODEPRO é de um grupo de pessoas que queriam fazer uma sociedade para defender o bairro. Isso foi em 1977 para 1978, quando assumi a presidência. Então, fiz um projeto social para poder defender algumas pessoas da própria comunidade e a história do bairro. Quando o Armandinho morreu, fiz um juramento que o bolo ia ser feito de todas as formas, nem que eu tivesse que vender a minha casa, ou pedir dinheiro emprestado.”
Fonte: Memórias do Bolo do Bixiga SP, SENAI-SP
2003
Autor: Alceu Luiz Pazzinato
Autor: Alceu Luiz Pazzinato
fonte: acervo do Centro de Memória do Bixiga CMB.D.000.109 - @edisonmariotti
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