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quarta-feira, 29 de abril de 2015

“Aquilo me estremeceu de uma forma que desci o varal, paralisei o trânsito, buzina de todo lado, costurei no meio da rua, não tava nem aí.” Isso eram 11 da manhã. Às 2 da tarde foi falar com o Mário Covas.

Com a morte de Armandinho, em 1994, seo Walter carregou o piano da iniciativa, mas já levava nas costas outras propostas para conservar as tradições do bairro mais emblemático da capital – os varal do Bixiga, por exemplo. Foi em dezembro de 1983 que ele pegou umas 2 mil, 3 mil roupas, algumas da comunidade, outras de brechó, e espalhou pelas ruas sobre fios de náilon. Queria homenagear as famílias, “porque todo mundo que vê um varal lembra da mãe, do pai, do filho”. Os quatro meses de trabalho foram Prefeitura abaixo. Na surdina, caminhões públicos carregaram o vestuário. De birra, seo Walter pegou um varal de 11 metros que tinha sobrado e foi pendurando saia após calça até chegar um mendigo. O homem queria comida, tinha uma fome tremenda. Dono de restaurante, seo Walter mandou fazer um marmitex. De curioso, o mendigo perguntou para o que era o varal. Então tirou o único paletó e doou.
“Aquilo me estremeceu de uma forma que desci o varal, paralisei o trânsito, buzina de todo lado, costurei no meio da rua, não tava nem aí.” Isso eram 11 da manhã. Às 2 da tarde foi falar com o Mário Covas. Queria as roupas de volta. Covas o mandou para a Regional e dali uns dias funcionários da Prefeitura devolveram a decoração. Aquilo o envolveu de tal jeito que seo Walter virou Adoniran. Na noite da vitória, fez o hino do bairro, mais a música do varal.




Quando você passa no Bixiga
Vai procurar saber daquelas
roupa pendurada pela rua
Que bacana
É tradição napolitana
De repente, a coisa mudou
A Prefeitura todo o varal retirou
Mas nessa hora falou
mais alto a voz do povo
Em menos de uma semana
o varal voltou de novo
Donzelas napolitana, após sua noite nupcial
Lavava suas roupas,
pendurava no varal
O varal está presente em
nossos corações
Eles fazem parte das ruas,
das favelas, das mansões
Eu vi uma coisa linda,
que só ela ela só
Um mendingo encantado
doou o seu paletó
E o varal que enfeitava as ruas com as suas roupas e trapos colorido
O luar e as estrelas
ficaram agradecido.




fonte: http://www.centrodememoriadobixiga.org/?page_id=8

 imagens do acervo CMB @edisonmariotti #edisonmariotti

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